quinta-feira, 10 de julho de 2014

Meus 20 anos e um pouco mais

Durante a minha vida inteira eu tive uma certeza: eu não iria passar dos 20 anos de idade. Mas há alguns dias eu me dei conta de que em um mês farei 24. Como pode, se a minha certeza era tão absoluta?
Então, me pus a pensar. Refleti sobre as coisas que aconteceram na minha vida quando eu tinha 20 anos. Naquela época eu estava passando por uma barra. Precisava tomar uma decisão, mas primeiro eu não havia me dado conta disso e, quando me dei conta, não sabia como fazer.
Acontece que uma hora, que como era de se esperar não demorou a chegar, eu soube. Tinha que ser direta. Cortar o mal pela raiz, por assim dizer. Então eu fiz. Tomei minha decisão e depois tomei folego. E fiz o que tinha que fazer.
Pensei que depois daquilo tudo ia ficar melhor e eu ia respirar aliviada. Mas não. Já na primeira tentativa eu vi que não seria nada fácil. Então decidi dar uma chance e seguir em frente com aquela situação. O problema é que eu não estava dando uma chance a mim mesma. Não estava fazendo a coisa certa.
Enfim, logo vi que aquilo não teria futuro, não poderia continuar. Então, tomei outro folego e dessa vez eu fui firme. Entretanto, àquela altura do campeonato eu já havia feito tanto mal à mim mesma, direta E indiretamente, que não poderia ter respirado aliviada de qualquer maneira.
Assim que me vi livre de uma situação sufocante, percebi que ainda não poderia emergir. Tinha outra coisa me empurrando para baixo. Ou melhor. Outra pessoa: eu mesma.
Naquele momento, percebi que, por mais que não estivesse mais vivendo aquela coisa absurda, eu ainda tinha que me encarar. Tinha que responder muitas perguntas pra mim mesma, tinha que me conhecer outra vez e não poderia ser um resgate. A pessoa que eu era naquele momento tinha que morrer.
Infelizmente, eu não estava preparada para aquilo. Fiz mais merda ainda. Me maltratei mais ainda. Coloquei minha vida em risco da maneira mais egoísta possível. Em minha defesa, eu estava me sentindo um lixo. E por mais ridículo que soe (e agora soa muito ridículo para mim) eu não via mais nenhum motivo pra viver. Não estava nem aí.
Aprontei. Aprontei muito, deixei minha família e meus amigos preocupados, especialmente meus pais.
Só depois de levar uma bela bronca da minha mãe, daquelas que não ouvia há muito tempo, foi que tomei vergonha na cara. Esse foi o primeiro passo.
Aí, precisava me acalmar. Tudo foi acontecendo bem devagar. E eu estava sempre me sentindo vacilar, como se estivesse andando no meio-fio.
Mas o tempo foi passando e eu fui ao menos respirando um pouco melhor. E tentando manter a cabeça erguida, o que era difícil, depois de toda a humilhação.
Contudo, parece que tudo por que eu havia passado ainda não era o suficiente. Nem tinha começado a me recuperar direito, quando tive que lidar com aquele mesmo assunto outra vez. Passei outra barra pesada. Mas dessa vez, me neguei a ficar calada. Contei tudo pra todo mundo. E todo mundo ficou do meu lado. Todo mundo me deu o apoio do qual eu realmente precisava naquele momento. E quando digo todo mundo, é claro, estou falando de todo mundo que é importante pra mim.
Passei por mais aquilo, mas agora tinha companhia. Não que antes eu não tivesse, mas é difícil ajudar alguém que não fala o que está acontecendo.
Assim, enfrentei o que tinha para enfrentar, me mantive próxima às pessoas que me amam e procurei ficar bem.
Fiz novas amizades, desisti do curso que eu havia escolhido sem pensar e do qual não havia gostado, dei um tempo pra minha cabeça e voltei a estudar quando me senti pronta. Conquistei uma ou duas coisas que queria. Conquistei uma ou duas coisas que precisava. Fui aos poucos, até mesmo sem perceber, deixando umas ideias bobas pra trás.
O fato é que realmente não passei dos vinte. Ou melhor. A pessoa que achava que não ia passar dos 20 morreu ali. Mas eu não. Eu apenas precisei parar de me esconder atrás daquela pessoa, até porque não faria muito sentido se eu me escondesse atrás de um cadáver. Mas eu sempre estive lá. O que me faltava era um pouquinho mais de coragem. E sinto que posso me renovar de novo, muitas e muitas vezes. Pois ainda tenho muitos e muitos medos. E ainda tem muitas e muitas versões melhoradas de mim esperando pra sair de seus esconderijos. E a única coisa que eu realmente espero agora é nunca mais sentir tanto medo a ponto de esconder todas as melhores partes de mim e deixar só as mais fracas e feias à mostra.