sábado, 24 de outubro de 2015

Bárbara

Era uma tarde de sábado. Bárbara estava de folga de seu trabalho como recepcionista em um escritório de advocacia e aproveitava o fim de tarde tranquilo de sua vizinhança, sentada na varanda da frente de sua casa, quando o viu passar na rua.
Era o homem mais lindo que ela já vira em sua vida. Alto, devia medir ao menos 1,90 de altura. Tinha ombros largos, um corpo musculoso, o típico homem pelo qual qualquer mulher largaria tudo e com Bárbara não era diferente.
Apesar de as pessoas acharem que ela tinha um quê de especial, Bárbara era uma mulher bem comum. Não tanto fisicamente, pois sua pele alva e seus cabelos e olhos escuros fugiam ao padrão e se destacavam. Mas seu jeito de ser, seus gostos, enfim, sua personalidade eram bem parecidos com os de todas as mulheres ao seu redor, inclusive no que tocava à impulsividade.  E, como todas as mulheres ao seu redor, ela gostava de homens como aquele: forte, aparentemente confiante e agradável ao olhar.
Contudo, Bárbara tinha uma particularidade: era uma admiradora do rei da selva, o leão. Encantava-se com sua imponência, com seu aspecto de segurança em si mesmo, seu poder e sua beleza. E acontece que aquele homem parecia um leão.
O homem que passara em frente a casa de Bárbara, além de possuir um corpo forte como o de um leão, também tinha cabelos loiros e volumosos e uma barba espessa e olhos verdes. Sua fisionomia, como a dos leões, sugeria que ele sabia seu lugar no mundo e que esse lugar era o mais alto possível; sugeria que ele conhecia sua força e seu poder e nada temia. Sugeria ferocidade e segurança.
Tudo isso passou na cabeça de Bárbara em questão de segundos, enquanto ela o observava passar. E, num impulso, como a presa mais mansa e mais louca, ela se levantou, abriu o portão e começou a segui-lo.
O Leão, como Bárbara já o chamava em sua cabeça, realmente tinha um jeito bem característico ao rei da selva de se mover. Ele andava pelas ruas como se fossem suas. Os carros paravam para que ele pudesse passar. As pessoas se afastavam de seu caminho, porém sem nenhuma vez tirar os olhos dele. E Bárbara o seguia, presa em seu encanto.
Se ele sabia que estava sendo seguido, não demonstrou em nenhum momento. Não olhou para os lados, nem para trás, seguia com sua cabeça erguida e os olhos sempre voltados para a frente, como era de se esperar de uma criatura como aquela.
Os dois, Bárbara e seu leão, andaram e andaram pelas ruas. Ele obviamente tinha o condicionamento físico para aquilo, mas ela já estava começando a ofegar. Mesmo assim, ele não notou ou não se incomodou com sua presença, apenas seguia seu caminho com graça e majestade.
Enfim, o Leão cessou de andar. Parou em frente a um restaurante, olhou para dentro e sorriu. E de lá saiu sua majestade, a leoa. Tão bela e poderosa quanto ele. E ainda mais consciente disso, logo se via. Eles se aproximaram, sorrindo um para o outro e deram um longo beijo. Em seguida, fizeram a coisa mais estranha: ambos olharam para Bárbara ao mesmo tempo, o sorriso ainda em suas faces. Ela apenas abaixou sua cabeça. Mais uma presa havia sido abatida.