domingo, 17 de julho de 2016

De frente com a vida adulta

Acabei de ler um texto no blog Papo de Homem, onde o autor analisa o que ninguém conta sobre ser adulto. Me peguei lembrando de quem eu era e o que queria quando tinha 16 anos. Há dez anos atrás achava que agora estaria morando sozinha, ganhando bem, dando altas festas em casa, entrando e saindo quando bem me desse na telha e sem dar satisfações a ninguém. Achava importantíssimo ter um monte de amigos, viver nas baladas e acreditava que já sabia de tudo o que precisava e deveria saber. Hoje, acho graça dessas ideias que eu tinha, principalmente ao compará-las com o que realmente aconteceu.
Em primeiro lugar, continuo morando na casa dos meus pais. E embora saiba que não posso viver aqui para sempre, também não tenho pressa de sair. Claro que viver com os pais tem lá suas desvantagens, mas a verdade é que no fundo tenho pavor de enfrentar as noites sem ninguém por perto. Acontece que sou muito medrosa e impressionável, além de ansiosa. Ou seja: a receita certa para o infarto fulminante ao ver uma sombra na parede de madrugada. Mas o mais importante é que com minha pouca experiência de vida, já consegui entender que morar sozinha  não é essa maravilha que eu costumava imaginar. Mesmo que eu ganhasse muitíssimo bem, o que não é o caso, como mencionado no artigo do PdH, quanto mais se ganha, mais se gasta. Teria que arcar sozinha com todas as contas. Teria que dar cabo de trabalhar e cuidar da casa sozinha. Teria que tomar todas as decisões sozinha. Certamente o ideal de todo adolescente e, mais ainda, de todo adulto, é que ao chegar a essa fase da vida se possa ser autossuficiente. Mas à medida que o tempo passa, vemos que isso não tem como acontecer: precisamos de auxílio com mais frequência do que gostaríamos.
Além da questão da moradia, também há a questão dos amigos. Não se pode negar que é importante ter alguém além da família com quem contar, com quem se divertir. Mas na adolescência, parece que damos mais importância à quantidade do que à qualidade. Eu mesma aceitava pessoas que realmente não me faziam bem por puro medo de ficar sozinha e também por medo do que os outro iriam pensar se eu não tivesse amigos. Entretanto, hoje vejo que não vale a pena. Aquele famoso ditado que diz que "antes só que mal acompanhado" e que eu tanto desprezava, hoje é mais ou menos como uma arma que eu saco para afastar pessoas que claramente poderiam me trazer muito desgosto. Antes de aceitar a amizade de qualquer um, penso como eu me sentiria ao apresentar essa pessoa aos meus pais. Analiso quão tranquila me sentiria em trazer essa pessoa à minha casa. Se ficar incomodada antes mesmo de isso acontecer, já sei que não é para mim.
Outra coisa que aprendi a valorizar com o passar dos anos e ainda mais recentemente, por conta de alguns acontecimentos, é a minha família. Fui uma adolescente típica: mesquinha e egoísta. Assim como meus colegas da época, fazia de tudo para ficar fora de casa e longe dos meus pais e irmãos. Tsc, tsc. Hoje quando vejo outros adolescentes fazendo isso, de certa forma acho divertido, pois penso em quanto mudarão seu modo de ver a família em poucos anos. Bom, pelo menos espero que seja assim. O que me leva a outra memória e outra comparação.
Sempre gostei de sair. Tanto que a minha primeira palavra foi "rua". E quando meus pais me deram permissão para ir passear à noite com meus colegas nos finais de semana, foi a realização de um sonho! Em pouco tempo, fiquei muito exigente. Não me contentava com os horários que me davam para chegar em casa e queria sair até mesmo nos dias de semana, o que eventualmente acabei fazendo. Abusei da paciência dos meus pais e de sua tolerância, bem como dos meus próprios limites. Passava finais de semana inteiros praticamente sem pregar os olhos, inventava para mim mesma desculpas para sair. E se por ventura (ou desventura) eu tivesse que ficar em casa num sábado à noite, isso era como a morte. Nesse período conheci algumas pessoas legais com quem, de uma forma ou de outra, me relaciono até hoje. Mas também conheci muita gente que não me teria feito, como de fato não me faz, a menor falta. E, claro, conheci uma ou outra pessoa que preferiria nunca ter encontrado. No balanço geral, acho que todas essas experiências serviram para alguma coisa. Mas por ter aprendido uma meia dúzia de coisas com essas experiências e talvez também por ter abusado tanto dessas noitadas, eu agora não sinto tanta falta delas. Muito pelo contrário: quase saí de um extremo para chegar a outro. Porque atualmente, prefiro muito mais passar vários finais de semana inteirinhos em casa do que sair, se for pra lidar com gente que eu não possa chamar de amigos. Porque percebi que não vale a pena aceitar a companhia de gente que não me respeita nem tem consideração por mim. Afinal, enquanto tiver minha família não estarei sozinha.
Enfim, o resultado desses dez anos é que aprendi a dar mais valor a quem merece e também a mim mesma. E, acima de tudo, aprendi a não não ter uma visão utópica do meu futuro. Com certeza alcançarei alguns objetivos e realizarei alguns sonhos, mas nada será tão fácil como eu costumava imaginar. E apesar de saber que a vida não será sempre tão tranquila quanto tem sido nos últimos meses, também sei que virão bons momentos para compensar as agruras. E viva a vida adulta, porque apesar de tudo, ser adolescente é muito chato!