segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Reflexões avulsas I

Há dias ela não conseguia dormir bem. Tinha insônia noite após noite e, a cada noite, dormia um pouco menos. Desta vez, haviam sido quatro horas. Sentia-se como se estivesse em um sonho. Não podia concentrar-se direito no trabalho. Tinha vontade de chorar. Ao fim do dia, quando chegava em casa, já não tinha energia para mais nada. Deitava-se em sua cama, com o notebook no colo, e ficava zanzando pela internet. Às dez apagava a luz e ficava rolando de um lado para outro. Ela sabia que precisava fazer algo mais do que isso. "Talvez, pensou, se eu me ocupasse com mais alguma coisa... Algum curso, algum esporte, um segundo emprego... Talvez assim eu conseguisse simplesmente deitar e dormir." Vinha pensando também em retomar sua vida amorosa, que já estava totalmente parada havia muito tempo. Fizera uma ou duas tentativas frustradas, que não resultaram sequer em um encontro. E, apesar de sentir falta de ter alguem, também não estava totalmente certa de estar pronta. Achava que não tinha muito a oferecer e, além disso, tinha medo. Já havia percebido que parecia ter um "dom" todo especial para atrair os homens errados. Depois, acabava pensando que é assim mesmo. "A gente conhece alguém, se apaixona, namora e depois vê que aquela não era a pessoa certa." Mas mesmo assim, estava em dúvida se era só isso mesmo. Estava confusa e já não sabia o que queria. Antes, sempre teve certeza de que não queria se casar, nem ter filhos. Hoje, a perspectiva de viver a vida toda sozinha a assustava. Em contrapartida, não achava que poderia suportar os fardos do casamento e da maternidade. Sabia, por observação, que não eram coisas de todo ruins, havia lá seus bons e maus momentos. Mas e depois que a novidade acabasse e o tédio da rotina tomasse conta de tudo? Como ela poderia suportar? Sem contar que homens e mulheres são seres tão diferentes que isso só parece tornar tudo mais difícil. Ela estava incerta quanto ao seu próprio futuro e provavelmente isso era o que estava causando as noites de insônia. Estava sofrendo e não sabia o que fazer para acabar com isso. Era como se estivesse pregada ao chão e pudesse ver tudo ao seu redor, apreender tudo, mas não podia alcançar nada. Ás vezes sentia que poderia ficar louca. Ás vezes, parecia que só mais um dia desses seria a gota d'água que faria transbordar o copo. Porque seu copo estava cheio e, apesar de nem tudo ser ruim, ele não estava cheio apenas com as coisas boas da vida.
Sentada em um banco em seu horário de almoço, viu o sol surgir fracamente por trás das nuvens e pensou que tudo iria melhorar, que era só questão de tempo, mas ouviu o som de um trovão e ficou imaginando quanto tempo mais. E quem. Apesar das dúvidas não podia deixar de se fazer essa pergunta: quem?
Olhou no relógio e viu que já tinha dado sua hora. Tinha o resto do dia para enfrentar e não podia se permitir ficar com esse ânimo tão para baixo. Afinal, se nem tudo são flores, também nem todas elas estão mortas.
Apagou o cigarro e seguiu o curto caminho de volta para o trabalho. Tudo ia ficar bem.