domingo, 26 de agosto de 2018

Sem chão

Aconteceu de novo. Foi a segunda vez este ano. É até engraçado e eu fico me perguntando como pode exatamente a mesma coisa acontecer com a mesma pessoa, duas vezes no mesmo ano, se a vida toda eu ouvi que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
O que aconteceu foi o seguinte: um homem se interessou por mim. Mas aparentemente queria só sexo. Até aí, tudo bem. Digo que tudo bem porque às vezes as pessoas só querem isso mesmo, o que é péssimo, mas é um direito delas e também porque sei que os homens são mais visuais e o fato de se interessarem sexualmente por uma mulher primeiro não significa que depois não possam vir a se interessar pela pessoa dela. Então, até aí, tudo bem. O problema é que assim que viu que não ia conseguir o que queria, simplesmente, imediatamente, entrou em um relacionamento com outra mulher. Eu não tive nem chance de me dar a conhecer. E foram duas vezes. Eles já tinham outras mulheres em suas vidas a quem conheciam e amavam (ou nem tanto) e só queriam mesmo satisfazer seu desejo de estar com uma mulher que é magra, pequena, mas tem uma bunda grande, porque foi isso o que aconteceu. Tenho mesmo uma bunda desproporcional ao meu corpo e foi só isso o que eles viram. Ridículo, eu sei. Mas doloroso.
Da primeira vez, parecia que eu estava sendo esmagada, apertada de todos os lados, a dor que senti foi excruciante, perdi até o fôlego. Foi horrível; da segunda vez, já estava um pouco ressabiada, meio desconfiada, mas ainda assim curiosa. E esta foi rápida. Da primeira vez, o homem em questão ficou cerca de três meses no meu pé, insistindo, mas toda vez que me chamava para sair, era da minha casa para a dele. Desta segunda vez, ele não me chamou para ir à casa dele, ou a qualquer lugar, mas em questão de uma semana desistiu e pediu a outra em namoro. Ah! E um detalhe: o primeiro pediu a outra em casamento. Por isso também foi pior da primeira vez, porque ele já tinha um relacionamento bastante sério.
Esta segunda vez, não doeu tanto, mas eu senti que o chão tinha sumido de debaixo dos meus pés. Sei que esta é uma expressão bastante batida e eu mesma sempre a achei muito dramática, mas foi exatamente o que eu senti: que o chão tinha sumido e eu estava caindo, caindo... E não tinha ninguém para me pegar e não tinha solo para parar minha queda e eu ia ficar só caindo para sempre, com aquele vento passando pelos meus ouvidos e aquela velocidade e eu novamente sem fôlego. Eu estava no ônibus e pensei: "Não vou chorar!", enquanto as lágrima já estavam se formando, mas eu respirei fundo, olhei para cima e fiz elas voltarem para trás, mas assim que baixei a cabeça novamente, elas retornaram e eu fiquei tentando não chorar, pensando que eu já tinha passado por aquilo e que eu já estava mesmo desconfiada e que eu deveria ser mais forte do que isso, porque chorar não ia resolver nada... Mas assim que cheguei em casa, apenas tive tempo para abrir meu quarto e tirar a bolsa do ombro. E chorei. Chorei e ri ao mesmo tempo, porque era tudo muito ridículo e as lágrimas iam caindo, eu pensava que meu rímel estava escorrendo e eu devia estar com uma cara horrível e eu ria e ria e chorava... E senti tudo: tristeza, raiva, um pouco de alívio por saber que, por mais horrível que fosse, eu não tinha mais motivo para desconfiar porque agora tinha certeza. E ri e chorei. No fim, meus olhos estavam pretos, minha cara desfigurada de inchaço, minha vontade (de viver ou de qualquer coisa), desaparecida. Liguei o notebook e fiquei horas na frente dele, vendo um vídeo atrás do outro no YouTube, me esforçando para não pensar. Cheguei em casa às dez da noite e só fui conseguir dormir mais de três horas da manhã.
Quando acordei, já era quase meio dia, eu me lembrei imediatamente do que tinha acontecido e quis chorar novamente. Mas também quis fazer outras coisas. Fiquei agradavelmente surpresa ao perceber que minha vontade tinha voltado e minha esperança não tinha morrido e eu já estava pensando em maneiras de sair dessa minha solidão terrível. Quero calçar um tênis e por uma roupa confortável e ir andar até minhas pernas tremerem; depois vou sentar e tomar uma água de côco e talvez depois ande mais um pouco. E minha esperança é que alguém, conhecido ou desconhecido, me veja e me chame para conversar, que eu possa hoje começar uma nova amizade, ou um novo relacionamento, pois eu não desisto, não deixo de ter esperança, sou assim. Não quero sofrer e com certeza não quero mais chorar. Quero ficar bem. Quero lutar por mim e vencer. E vou. Vou porque quero e, quando quero, ninguém me segura! Por isso, vou. Fui!

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Aqui dentro

Solidão é ter tanta gente ao seu redor, mas ninguém perto de você.
A vida é como um belo jardim ao alcance da sua visão, porém a um abismo de distância, e não há ponte...
Felicidade é um arco-íris e suas cores são vibrantes, mas você é daltônico.
Os dias foram curtos e a noite já dura demais. E é dura demais. E escura demais.
E a estrada é íngreme e tão longa que parece nunca acabar...