quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Oração à Lestat

Oh, Amado Chefe!
Chamo hoje o teu idolatrado nome
Para que me liberte das misérias da vida humana
Querido Príncipe Moleque!
Me dê o Sangue Negro
Me leve para as Trevas
E prometo por ti e contigo viver na obscuridade
Adorado Senhor da Escuridão!
Espero por ti a cada noite
Tu, que és tão esplêndido em tua sobrenaturalidade
Que jaz imóvel durante o dia
E arrebata vidas sem valor na hora das sombras
Mestre
Que espera ser adorado, e é
Me leve, me ganhe e me tenha
Pelos séculos dos séculos
Amém

sábado, 24 de outubro de 2015

Bárbara

Era uma tarde de sábado. Bárbara estava de folga de seu trabalho como recepcionista em um escritório de advocacia e aproveitava o fim de tarde tranquilo de sua vizinhança, sentada na varanda da frente de sua casa, quando o viu passar na rua.
Era o homem mais lindo que ela já vira em sua vida. Alto, devia medir ao menos 1,90 de altura. Tinha ombros largos, um corpo musculoso, o típico homem pelo qual qualquer mulher largaria tudo e com Bárbara não era diferente.
Apesar de as pessoas acharem que ela tinha um quê de especial, Bárbara era uma mulher bem comum. Não tanto fisicamente, pois sua pele alva e seus cabelos e olhos escuros fugiam ao padrão e se destacavam. Mas seu jeito de ser, seus gostos, enfim, sua personalidade eram bem parecidos com os de todas as mulheres ao seu redor, inclusive no que tocava à impulsividade.  E, como todas as mulheres ao seu redor, ela gostava de homens como aquele: forte, aparentemente confiante e agradável ao olhar.
Contudo, Bárbara tinha uma particularidade: era uma admiradora do rei da selva, o leão. Encantava-se com sua imponência, com seu aspecto de segurança em si mesmo, seu poder e sua beleza. E acontece que aquele homem parecia um leão.
O homem que passara em frente a casa de Bárbara, além de possuir um corpo forte como o de um leão, também tinha cabelos loiros e volumosos e uma barba espessa e olhos verdes. Sua fisionomia, como a dos leões, sugeria que ele sabia seu lugar no mundo e que esse lugar era o mais alto possível; sugeria que ele conhecia sua força e seu poder e nada temia. Sugeria ferocidade e segurança.
Tudo isso passou na cabeça de Bárbara em questão de segundos, enquanto ela o observava passar. E, num impulso, como a presa mais mansa e mais louca, ela se levantou, abriu o portão e começou a segui-lo.
O Leão, como Bárbara já o chamava em sua cabeça, realmente tinha um jeito bem característico ao rei da selva de se mover. Ele andava pelas ruas como se fossem suas. Os carros paravam para que ele pudesse passar. As pessoas se afastavam de seu caminho, porém sem nenhuma vez tirar os olhos dele. E Bárbara o seguia, presa em seu encanto.
Se ele sabia que estava sendo seguido, não demonstrou em nenhum momento. Não olhou para os lados, nem para trás, seguia com sua cabeça erguida e os olhos sempre voltados para a frente, como era de se esperar de uma criatura como aquela.
Os dois, Bárbara e seu leão, andaram e andaram pelas ruas. Ele obviamente tinha o condicionamento físico para aquilo, mas ela já estava começando a ofegar. Mesmo assim, ele não notou ou não se incomodou com sua presença, apenas seguia seu caminho com graça e majestade.
Enfim, o Leão cessou de andar. Parou em frente a um restaurante, olhou para dentro e sorriu. E de lá saiu sua majestade, a leoa. Tão bela e poderosa quanto ele. E ainda mais consciente disso, logo se via. Eles se aproximaram, sorrindo um para o outro e deram um longo beijo. Em seguida, fizeram a coisa mais estranha: ambos olharam para Bárbara ao mesmo tempo, o sorriso ainda em suas faces. Ela apenas abaixou sua cabeça. Mais uma presa havia sido abatida.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Scorpio - Parte I

Era mais um dia de verão numa cidade já normalmente quente.
Joaquim arrancava ervas daninhas de sua horta no quintal, quando percebeu uma leve ondulação nas folhas do pé de abóbora. "Hmm... Deve ser um lagarto." Pensou em ir até lá e para ver o bichinho, que considerava sempre uma visão interessante. Caminhou até o pé, parando para observar suas abóboras, das quais era muito orgulhoso, e ergueu uma das folhas.
- AAAARGHH!!!
Céus, que susto! Em vez de um belo calango, o que Joaquim encontrou entre as folhas vistosas de sua horta foi um escorpião amarelo. O bicho tinha uma aparência realmente assustadora, bem diferente dos inocentes calangos. "Essa foi por pouco.", pensou. Mas bem que era de se esperar, nesta época do ano. Tudo bem, ele iria recolher o bichinho e continuar com seu trabalho. Ainda havia muito o que fazer...
Algumas horas depois, enquanto assistia o jornal da noite, Joaquim soube que duas pessoas haviam sido picadas por escorpiões do mesmo tipo que ele encontrara mais cedo naquele dia. A apresentadora fez as recomendações de praxe para este caso e então Joaquim desligou a TV e foi dormir.

***


A noite estava quente e Joaquim resolveu levantar e ir até o quintal na esperança de tomar um ar fresco. Então ele percebeu novamente uma ondulação nas folhas de seu pé de abóbora e se aproximou cautelosamente, tentando identificar se era outro escorpião. Ao chegar mais perto, viu algo que não podia ser verdade; mudou de posição e olhou de novo  para a parte da horta que ficava mais perto do portão. E assim, ele percebeu que não era imaginação sua: realmente havia uma fila de pequenos escorpiões saindo da proteção das folhagens e indo em direção à rua. Apesar do pavor, Joaquim decidiu seguir com muito cuidado aqueles escorpiões, para ver onde estavam indo. Na verdade, ele não entendia muito bem por quê estava fazendo aquilo. Não seria melhor ligar para alguma autoridade? Mas algo se agitou dentro de si, compelindo-o a seguir os escorpiões-bebês.
Joaquim andou durante aproximadamente quarenta minutos atrás daqueles escorpiões. Estranhamente, eles pareciam não se incomodar com sua presença; ele ainda sentia medo, mas estava agora mais curioso do que assustado. Os escorpiões estavam entrando em um cartão-postal da cidade, o Parque dos Chapéus, que dava lugar a um belo bosque mais adiante.
O Parque dos Chapéus recebera esse nome em homenagem às centenas de estudantes da universidade ao lado que iam lá tradicionalmente na época de sua formatura, munidos de chapéus, apenas para tirá-los e jogá-los para o alto. Após o ritual, os chapéus eram deixados lá para os moradores e visitantes da cidade que se interessassem em torná-los seus. Essa brincadeira, na verdade, começara com uma aposta entre duas turmas rivais de algum curso da universidade, onde uma turma desafiava a outra a se formar com o maior número de estudantes possível; a turma perdedora deveria ir até o bosque vestidos com suas togas, porém com chapéus comuns, do dia-a-dia, e jogá-los para o alto em uma imitação do gesto dos orgulhosos formandos. A rivalidade era apenas uma brincadeira, algo usado por essas duas turmas para "encher o saco" uma da outra, mas a moda pegou. Ainda hoje, 50 anos depois, os formandos da cidade continuam jogando seus chapéus na praça.
Agora, o parque estava cheio deles. E, quando Joaquim olhou uma segunda vez, percebeu que alguns escorpiões se juntavam para carregar os chapéus para dentro, em direção ao bosque. "Que estranho!", pensou. Mas depois refletiu que isso não era muito mais estranho do que aquela quantidade absurda de escorpiões andando em bando pela cidade e tolerando sua presença. 
O estranho grupo continuou andando cada vez mais para dentro do bosque, até que chegou na parte mais densa. Então, pararam. Neste momento, Joaquim ouviu um som que fez sua pele se arrepiar desde o couro cabeludo até as solas dos pés, se é que elas se arrepiam. O barulho se repetiu. Joaquim girou em torno de si mesmo buscando a origem daquele som. Quando o barulho tornou a se repetir e os escorpiõezinhos começaram a se juntar em torno dele, Joaquim não precisou olhar para saber o que veria...

domingo, 18 de janeiro de 2015

Eu

Não. Não sou extrovertida. Não abro sorrisos a todo momento. Não acho necessário e nem confio em gente que é "feliz demais". E matei a criança em mim. De propósito, pois nunca gostei de crianças. Nem quando eu mesma era uma. E não suporto ficar em rodas de papo cabeça. Pra mim, isso é pura perda de tempo. Como diria Aline Dorel, personagem interpretada por Grace Gianoukas  na comédia Terça Insana: "Me deixem ser burra! Ser intelectual dói." Então não esperem me ver por aí me divertindo daquela maneira inocente e barulhenta (irritante) das crianças. É, sou ranzinza pra caralho. Pareço até uma daquelas pessoas que já viveram tanto, mas tanto, que tudo nessa vida as irrita. E não, esse texto não tem porém. Não vou dizer aqui que sou chata, mas... Porque não tem mas. Sou chata e pronto. Pior: gosto de ser assim. Não poderia me suportar se fosse uma pessoa alegre e feliz. Se tivesse síndrome de Pollyanna e visse um lado bom em tudo. E não tenho jeito, nem saco, para lidar com pessoas iguais a mim. Prefiro as pessoas mais simples e, até certo ponto, mais leves. Não é porque gosto de ser cuzona que posso me aguentar o tempo todo, também. Fim.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Algumas considerações

Teoricamente o sistema de ciclos com progressão continuada elevaria a qualidade do ensino, além de diminuir as taxas de repetência e evasão escolar, ao dar mais tempo e estímulo a professores e alunos. Outrossim, tal sistema permitiria que se acompanhasse bem de perto e com bastante atenção aqueles alunos com menor rendimento, oferendo-lhes aulas extras no contraturno, por exemplo.
Contudo, por não ter ocorrido a implantação deste sistema de maneira completa, não houve melhorias. Assim: a reprovação de alunos é feita em períodos de tempo mais espaçados. Contudo, a programação das atividades escolares ainda é feita de acordo com o conceito de ano letivo, que por sua vez não chega a ser 1 ano, de fato. Além disso, os professores, por ganhar pouco, têm que se desdobrar em horários malucos para dar aulas em diferentes escolas, para uma quantidade enorme de alunos, por vezes em todos os períodos letivos do dia. Isso faz com que o professor perca um tempo enorme se locomovendo entre as escolas e fique mais cansado ao longo do dia do que ficaria se trabalhasse em uma única instituição escolar, diminuindo a qualidade de seu trabalho e dificultando para que ele consiga dar atenção aos alunos que mais necessitam.
O sistema de ciclos, se recebesse o investimento necessário, poderia sim ser uma boa saída para o problema da educação. Entretanto, como os políticos que (des)governam o Brasil roubam uma boa parte do dinheiro do contribuinte, não sobra o suficiente para investir de maneira satisfatória nas áreas de maior interesse. Aliás, em área nenhuma.
Portanto, a "impressão" que fica é a de que a progressão continuada serve apenas para passar os alunos de série, quer eles tenham aprendido ou não. Sendo assim, o governo pode se mostrar competente na área da educação, ao apresentar dados mais positivos no sentido da permanência e ascensão dos alunos. Estes, por sua vez, saem da escola sem saber ler e escrever, o que é bem diferente de saber distinguir algumas palavras num pedaço de papel ou na tela de um computador (ou colocá-las ali) e vão viver as mesmas vidas de seus pais: uma vida de pobreza, trabalhando para os outros por um salário de fome e ouvindo desaforo de gente que nem conhecem.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Um momento

A angústia de não entender me invade. Não entendo o que se passa comigo. Não entendo por quê me sinto assim, tão estranha. tão distante, tão... Perdida!
O meu silêncio pesa dentro da cabeça e incomoda dentro do peito. Mais um ciclo dessa minha maldita fase do silêncio, que também não entendo. Assim como, em contrapartida, não entendo a necessidade da maioria de fazer tanto barulho.
Não entendo. E, por não entender, tenho medo. A ponto de preferir nem pensar nas consequências. Porque eu sei quais são. E sei o quanto custam.
Mas também não sinto o impulso para fazer algo contra esse silêncio, contra essa angústia. Afinal, a vida é dividida em ciclos, e tais fases fazem parte dos meus. Odeio-os, mas preciso deles.
Enquanto isso, mal durmo. Mal vivo. Como demais. E mal. E sonho sonhos horríveis e misteriosos.
Só espero que dessa vez não demore muito para passar.