sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Algumas considerações

Teoricamente o sistema de ciclos com progressão continuada elevaria a qualidade do ensino, além de diminuir as taxas de repetência e evasão escolar, ao dar mais tempo e estímulo a professores e alunos. Outrossim, tal sistema permitiria que se acompanhasse bem de perto e com bastante atenção aqueles alunos com menor rendimento, oferendo-lhes aulas extras no contraturno, por exemplo.
Contudo, por não ter ocorrido a implantação deste sistema de maneira completa, não houve melhorias. Assim: a reprovação de alunos é feita em períodos de tempo mais espaçados. Contudo, a programação das atividades escolares ainda é feita de acordo com o conceito de ano letivo, que por sua vez não chega a ser 1 ano, de fato. Além disso, os professores, por ganhar pouco, têm que se desdobrar em horários malucos para dar aulas em diferentes escolas, para uma quantidade enorme de alunos, por vezes em todos os períodos letivos do dia. Isso faz com que o professor perca um tempo enorme se locomovendo entre as escolas e fique mais cansado ao longo do dia do que ficaria se trabalhasse em uma única instituição escolar, diminuindo a qualidade de seu trabalho e dificultando para que ele consiga dar atenção aos alunos que mais necessitam.
O sistema de ciclos, se recebesse o investimento necessário, poderia sim ser uma boa saída para o problema da educação. Entretanto, como os políticos que (des)governam o Brasil roubam uma boa parte do dinheiro do contribuinte, não sobra o suficiente para investir de maneira satisfatória nas áreas de maior interesse. Aliás, em área nenhuma.
Portanto, a "impressão" que fica é a de que a progressão continuada serve apenas para passar os alunos de série, quer eles tenham aprendido ou não. Sendo assim, o governo pode se mostrar competente na área da educação, ao apresentar dados mais positivos no sentido da permanência e ascensão dos alunos. Estes, por sua vez, saem da escola sem saber ler e escrever, o que é bem diferente de saber distinguir algumas palavras num pedaço de papel ou na tela de um computador (ou colocá-las ali) e vão viver as mesmas vidas de seus pais: uma vida de pobreza, trabalhando para os outros por um salário de fome e ouvindo desaforo de gente que nem conhecem.

2 comentários:

  1. Há uma razão ou duas para a permanência desse estado de coisas.
    Por um lado, nossos "intelectuais", que criaram e mantém com denodo essa cultura de coitadismo, que diz que do pobre não se deve exigir esforço, trabalho duro, que tudo deve ser facilitado para esse pobre. Por trás dessa "filosofia" há o preconceito oportunista. Nossos "intelectuais" veem o pobre como alguém naturalmente incapaz de sair dessa condição; o oportunismo fica por conta da auto vitimização a que induzem os pobres: sua condição é culpa dos outros. Vítimas sempre precisam de um salvador, posto assumido pela "intelectualidade" com muito gosto.
    E há responsabilidade também dos professores, seja pela passividade, seja pela concordância a esse estado de coisas. Cabe a eles se organizar e pressionar para algum tipo de mudança, já que são parte intrínseca da coisa toda e, em parte, prejudicados.
    Mas é preferível e mais confortável unirem-se ao coro das vítimas.

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  2. Pois é. Aqui, o governo desgoverna, os professores deseducam e os intelectuais são tudo, menos intelectuais.

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