segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O Inverno da Vida

Às vezes parece que a nossa vida é feita de estações. E quando estamos vivendo no verão da vida, é terrível ver o outono chegar porque, invariavelmente, o outono é sucedido pelo inverno. E o maior problema com isso é que as estações da vida não têm prazo de validade.
Ao longo do último ano todo tenho vivido principalmente no verão. Claro que, como é natural no verão, há alguns dias de chuva, mas mesmo nestes ainda podemos sentir calor.
Porém ultimamente tenho sentido o vento esfriar e o som das chuvas que têm caído já perderam aquela qualidade calmante e os dias são um pouco mais escuros e mais curtos. Já aquela sensação de urgência que nos põe em alerta contra o frio começa a se enraizar na terra fértil da minha mente imaginativa até demais.
Já os meus pensamentos se tornam um pouco mais obscuros e pesados e aquela sensação de estar sozinha e isolada em meio ao monte de gente que sempre me cerca luta para chegar à superfície do mar dos meus sentimentos e gelar as águas da praia onde tenho estado de férias durante todo esse longo verão.
 Posso sentir a melancolia que precede o frio, enquanto vejo o sol se por um pouco antes da hora. Mas então ele ilumina o céu de uma maneira muito específica que só pode acontecer no verão e isso me faz lembrar de uma coisa muito importante.
O brilho alaranjado do sol poente de verão faz com que eu me dê conta de que, ao contrário do que acontece no mundo exterior, eu posso controlar as estações do meu mundo particular e isso me faz abrir um sorriso e trás uma lágrima de esperança e faz com que aquele mini-eu que está na praia se espreguice languidamente, deitando-se sobre a areia dessa praia que é só dela.
E então eu e ela fazemos um trato: não vamos permitir que o inverno volte. Pelo menos, não agora. Não por enquanto.
Agora é verão e vai continuar sendo até que a vinda do inverno seja inexorável. E este momento não é agora.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Lorena: entre dois amores

Lorena estava entre dois amores.
Um deles era doce, carinhoso, divertido, leve; o outro era mais selvagem, livre, determinado, carnal. Ela queria sinceramente aos dois e sabia que ambos a queriam. Porém, sabia também que somente poderia ficar com um e isso realmente partia seu coração. Lorena não se conformava com o ter que escolher.
De manhã ela saía de casa na expectativa de ver o primeiro deles e ia animada ao seu encontro, já sabendo que daria muitas risadas e se divertiria imenso, que seria mimada e paparicada como poucas.
Aos finais de semana, por conta de seus compromissos nesses dias, podia ver aquela fera apaixonada que mexia com ela e a tirava do eixo. Com ele, poderia dar por certo que seria desejada, farejada, caçada mesmo. Ele era como um leão e ela, sua presa.
Esses eram os dois homens de sua vida e ela amava um e estava apaixonada por outro e já vinha lidando com este impasse por alguns meses. Não havia tocado nem se permitido tocar por qualquer um e a expectativa a estava matando. Mesmo assim, ela tinha que confessar a si mesma que era divertido estar naquele lugar, naquela posição onde cada passo tinha que ser dado com o máximo de cuidado, pois era como um castelo de cartas e a mais leve brisa poria tudo o que ainda nem existia abaixo.
Lorena pedia conselhos às amigas e elas sempre diziam para que ela escolhesse, pois não seria direito ficar com os dois e ela acabaria sem nenhum. Mas ela simplesmente não podia. Não havia a menor possibilidade de abrir mão deste amor ou daquela paixão.
Havia ainda uma terceira opção, que era permanecer sozinha e, na realidade, Lorena achava que no seu caso seria o melhor. E, de fato, se nenhum dos dois estivesse interessado nela, esta seria sua escolha. Mas não era assim. Ela era amada com ternura e desejada com violência. Ela tinha tudo o que queria e, se fossem um, seria o melhor de dois mundos, mas eram dois. Eles eram dois e ela queria ser dos dois, sem poder ser de nenhum.
Lorena estava entre dois amores.
Ela estava entre dois amores e se via em uma encruzilhada, imóvel, sem saber pra onde ir.
E então, depois de muito pensar, analisar, raciocinar, sentir, Lorena decidiu: não ia escolher. Não podia. Ela seria dos dois e os dois seriam dela. Viveria seu amor de segunda a sexta e, aos sábados e domingos seria amada. E assim foi.
De manhã ela saía de casa na expectativa de ver o primeiro deles e ia animada ao seu encontro, já sabendo que daria muitas risadas e se divertiria imenso, que seria mimada e paparicada como poucas. E era. Sentia um carinho quase doloroso por ele e o beijava e abraçava, sorria e brincava e o fazia o homem mais feliz de todos. Ela o amava e dizia sempre isso e era sincera. E era feliz.
Aos finais de semana, por conta de seus compromissos nesses dias, podia ver aquela fera apaixonada que mexia com ela e a tirava do eixo. Com ele, poderia dar por certo que seria desejada, farejada, caçada mesmo. Ele era como um leão e ela, sua presa. Ele a tinha por entre suas garras e suas presas e a fazia em pedaços. Ele a atacava com fúria, seus abraços eram como barras de ferro, quando a beijava, comia sua boca.
E ela era feliz. Andava sobre pregos, mas era feliz e não trocaria sua vida por nada no mundo.
Lorena agora vivia dois amores.