sexta-feira, 20 de abril de 2018

Pensamentos Avulsos IV

Não quero nem pensar em nada. Nem quero ver nada, nem ouvir nada. Porque pensar, ver e ouvir são coisas que fazem a gente sentir e nem sempre o que se sente é bom. O que sinto agora, por exemplo, é quase tão ruim quanto não sentir nada. É solidão, é ciúme, é ansiedade, é frustração, é tudo junto. É o medo do tempo; o tempo já bem próximo e o tempo ainda vindouro. O que sinto agora é também o peso do tempo que já vivi; o que sinto agora é desejo, porém um desejo tresloucado de algo que nunca acontecerá. O que sinto agora é raiva e também impotência. Sinto tanto, mas tanto, que fiquei paralisada. Os olhos de olhar ausente eram a única coisa que se movia em mim. Porém o que eles viam era apenas uma ilusão, provocada por uma esperança vã.
O que os meus olhos viam era a imagem de uma vida que nunca terei: uma vida de paz de espírito, de amor romântico, ainda que real, de alegria de viver, de força e resistência. O que os meus olhos viam em minha ausência, era algo que nunca verão em minha presença, pois minha presença por si só é o que torna vã minha esperança.
Por isso, procuro me resignar à vida que me espera. Respiro fundo e mantenho a aparência de calma, mesmo que por dentro esteja queimando em um incêndio terrível de proporções apocalípticas. Exagero, eu sei. Mas é como me sinto: sou feita de fogo e queimo até a última camada de mim mesma. E queimarei também todos que se aproximarem demais. Melhor então queimar sozinha!

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