Ela
havia comprado a ilustração em uma lojinha de presentes e utilidades
que havia perto da lanchonete onde trabalhava. Era uma loja nova, muito
pequena e abarrotada, um verdadeiro caos. As ilustrações, no entanto,
estavam muito distinguíveis em meio à bagunça e foram a primeira coisa
em que ela reparou ao entrar com as marmitas. Não poderia ter sido
diferente: eram duas imagens em 3-D. Em uma delas havia dois
tigres muito bonitos, mas também muito inquietantes. A outra
representava uma paisagem ondfe havia um caminho de cascalho ladeado por
árvores de aspecto outonal, sob as quais estavam caídas muitas folhas
amarelas. O caminho levava a uma casa branca, bem simples, com duas
janelas e uma porta na frente e um telhado aparentemente coberto de
musgo. Para além da casa e das árvores estendia-se um campo coberto das
folhas que o vento havia carregado, mais duas colinas ao fundo. O céu
acima era muito azul, num tom que sugeria um tempo ligeiramente fresco,
como era o outono que conhecia.
A
imagem encheu a moça de uma tranquilidade tão boa, grande e suave como
ela jamais sentira antes. Decidiu que aquela imagem ficaria à frente de
sua cama, para que pudesse dormir olhando-a, sentindo essa
sensação.Perguntou à mulher da loja quanto custava a ilustração e pediu
que a guardasse, pois iria buscá-la mais tarde.
E foi.
Ao
chegar em casa encaixou-a em uma antiga moldura, que encontrara entre
as coisas de sua infânica, guardadas em quartinho nos fundos do quintal.
Pendurou o quadro na parede em frente à cama e sorriu, satisfeita por
ver que a cena era exatamente do jeito que imaginara. Depois deitou e
ficou ali, a admirar aquela maravilha até cair no sono. Sonhou que
estava no caminho de cascalho, usando um vestido branco de algodão e com
os cabelos escuros caindo em cachos ao longo das costas.
Por
vários dias depois daquilo, a moça cumpriu o mesmo ritual: chegava em
casa, tomava banho, jantava e deitava-se de frente para a imagem.
Perguntava-se quem teria criado algo tão belo, tranquilo e agradável e
sonhava o mesmo sonho da primeira noite.
No sétimo dia, enquanto admirava o quadro e ouvia uma de suas músicas favoritas, ela viu as folhas nas árvores se mexerem.
Tomou
um susto, levantou-se e olhou mais de perto: nada. Devia ser
imaginação, pois estava cansada e com sono. Entretanto, ao abaixar a
cabeça, preparando-se para deitar novamente, ela viu mais uma vez a leve
movimentação das folhas. Desta vez as que estavam no chão também se
moveram. A moça começou a achar que estava enlouquecendo e botou a mão
sobre o caminho na pintura, soltando uma exclamação ao sentir ser puxada
por algo de dentro da ilustração. Ppodia sentir os pelos do corpo
arrepiando-se de surpresa, medo e prazer,, pois o que ela tanto desejara
estava agora acontecendo. Sentiu então o corpo relaxar e se deixou
levar pela suave sensação de ser puxada para dentro da pintura.
Quando
acabou, ela estava e uma espécie de depósito, um lugar pequeno, com
cheiro de fubá e café. Olhou em volta e percebeu que era uma despensa.
Depois, olhou para baixo, para seu corpo e viu que usava as mesmas
roupas do sonho. Ficou urpresa, mesmo constatando que já sabia. Estava
exatamente com a mesma aparência do sonho.Saiu do quarto lentamente,
olhando em volta, procurando alguém que ela ainda não sabia quem era,
mas, de alguma forma, sabia que estava lá. Sentiu que devia dirigir-se à
casa.
No caminho de cascalho, sentiu o
vento frio tocar sua pele, mas não sentiu frio. Na verdade, sentiu-se
tão quente e confortável quanto estava no seu quarto. Isso era tão
estranho!
Chegou à porta da casa e
parou, pensando no que poderia encontrar lá dentro. Mas não sentiu medo,
pois pressentiu que o que quer que fosse, seria bom.
Abriu a porta, olhou para a sala e sorriu.
Lá,
sentada em uma confortável poltrona azul, usando um vestido igual ao
seu, com os cabelos arrumados do mesmo jeito, estava sua mãe. Sua
querida mãe, que havia morridoo quando ela tinha apenas conco anos de
idade, estava lá e sorria para ela.
A
moça não disse nada. Apenas aumentou mais seu sorriso e foi em direção à
mãe, que a abraçou e embalou. Então, a moça percebeu uma variação da
luz e, pela priemeira vez, notou que a poltrona estava encostada na
janela. Levantou a cabeça e olhou para fora, admirando mais uma vez a
beleza da paisagem, no que a mãe a seguiu. Soube que poderia olhar
aquele lugar lindo para sempre, pois agora era ali sua morada.
****
A
moça ficara cinco dias sem aparecer para trabalhar. A amiga andara
preocupada com ela, que ultimamente só falava naquela ilustração e até
havia insistido para que fosse à sua casa vê-la. Ela foi, viu e achou
bonito, mas nada demais.
Agora a amiga
da moça estava na casa desta, tendo entrado com a chave reserva que lhe
fora dada para o caso de alguma emergência. Bem, isto parecia uma
emergência. A amiga chamou a moça três vezes. Primeiro, fracamente;
depois, mais alto e com mais força. Não ouvindo resposta, dirigiu-se ao
quarto e, ao entrar, deparou-se com uma cena que a fez soltar o mais
pavoroso grito que já emitira ou ouvira: na parede em frente à cama
estava o quadro que fascinara tanto a moça, com o caminho de cascalhos,
as árvores, as folhas e a casa. E na parte da frente da casa, em uma das
janelas, os rostos da moça e de sua mãe, ambas a sorrir e olhar
diretamente para ela.
****
(Final Alternativo)
A
irmã da moça estava preocupada. Ela já não ligava nem dava sinais de
vida havia dias. Isto não era normal. As dua perderam a mãe muito cedo e
isto fez com que crescessem cada vez mais unidas. Como a moça também
não atendia ao telefone, a irmã tomou uma decisão: iria até a cidade
onde a caçula morava. Eram apenas duas horas de viagem e ela bem que
andara querendo ver sua irmãzinha.
Lá
chegando, dirigiu-se ao quintal dos fundos, onde sabia que havia uma
chave reserva e abriu a porta da cozinha. Chamou, andou pela casa, mas
não viu sinal da irmã.
O silêncio na
casa era pesado e perturbador, e levou a irmã ao único lugar que ela,
sem perceber, evitara desde o momento em que botou os pés na casa. Era o
quarto.
Estava grávida, e quando
entrou sentiu o bebê se remexer e chutar. Colocou a mão sobre a barriga,
um gesto a ques estava acostumada. Percebeu um quadro na parede em
frente à cama e, ao se aproximar, ouviu um grito terrível que jamais
soube ter saído de sua garganta. O quadro continha uma ilustração que
mostrava uma bela paisagem, onde havia uma casa. Sorrindo de uma das
janelas, o mais maléfico sorriso que ja vira em sua vida, estavam sua
irmã e sua mãe, ambas gualmente vestidas e penteadas, a chamar por ela
com um gesto. A mulher grávida sentiu uma lágrima escorrer por sua face e
estendeu a mão para elas. Agora estava em casa, com sua família.
Comecei lendo despreocupadamente e no fim estava tensa, aflita.
ResponderExcluirGostei mais do final com a irmã, sugere possibilidades realmente tétricas e envolventes...
Promissor, deveras!
Obrigada, mãe-fã! Hahaha
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