Durante toda a sua vida, Paloma foi uma pessoa contida. Raramente externava alguma emoção negativa e, mesmo quando estava feliz, não demonstrava isso de maneira arrebatada. Entretanto, era uma pessoa bastante ansiosa e sentia dificuldade em controlar esta condição. Porém, quando sentia esta emoção de maneira mais forte, fazia um esforço e respirava fundo. Algumas vezes, se distanciava das pessoas ao redor e não se comunicava muito. Outras, desatava a falar e a fazer piadinhas e ria. Aliás, essas eram as vezes em que mais demonstrava o que sentia, mas as pessoas não pareciam notar nada de estranho nisto.
Contudo, ultimamente vinha se irritando mais que nunca em sua vida, cada vez com mais frequência e pelas menores coisas. Como num outro dia, em que uma senhora esbarrou nela na rua e Paloma teve vontade de esmurrá-la. Naquele dia, ela assustou-se muito consigo mesma. Sabia que era uma reação desproporcional e sabia também qual era seu problema.
Toda vez que alguém fazia ou dizia algo que a desagradava, Paloma não tinha qualquer reação. Apenas, como sempre, respirava fundo e pensava que tinha que se acalmar, que não valia a pena entrar em um conflito, que não era boa nisso e que arrumaria algum problema. E, desta forma, as pessoas seguiam destratando a moça. Quanto mais educada e respeitosa ela se mostrava, mais as pessoas pareciam sentir-se confortáveis em molestá-la e mais fundo ela entrava em sua mente e em seu próprio mundo. Já havia chegado a um ponto em que havia se afastado quase completamente do mundo exterior e de seus habitantes, quase nunca saía de casa, a não ser para trabalhar e, embora fosse relativamente fácil falar com ela, era cada vez mais difícil aproximar-se de fato, pois Paloma não o permitia.
Paloma sabia que precisava mudar, para seu próprio bem e, principalmente, para o bem das outras pessoas, pois sentia a linha entre a sanidade e a loucura cada vez mais estreita. Precisava falar, demonstrar, fazer com que soubessem quando algo não era de seu agrado, mas de uma forma civilizada. Não obstante, o hábito de retrair-se e recuar era muito forte e ela sempre caía na mesma armadilha de sua própria mente, que a dizia para se acalmar e esquecer.
A cada dia, Paloma levantava da cama com o propósito de fazer as coisas de maneira diferente e, naquele dia em particular, estava especialmente bem-disposta. Sentia algo diferente em si mesma, como se uma espécie de descarga houvesse sido puxada em sua cabeça e todos os problemas houvessem simplesmente sumido.
O dia estava lindo. Claro, era verão. O céu estava limpo, brilhante, o ar da manhã era fresco e revigorante e isso a fez sorrir.
Paloma tomou seu café, se arrumou e saiu para mais um dia de muito trabalho. Decidiu que não ia deixar nada nem ninguém tirá-la do sério hoje, mas que também não havia nenhuma razão para se preocupar com isso. Seu dia seria perfeito. Foi assim que ela decidiu e assim foi.
Ao chegar no escritório, cumprimentou a todos com um sorriso e sentou-se à sua mesa. Então, chegou aquela sua colega que adorava provocá-la. Paloma começou a franzir as sobrancelhas, mas lembrou-se que hoje era um dia diferente e não havia nada com que se preocupar. Olhou para a mulher e a cumprimentou como havia feito com todos os outros naquele dia: com um bom-dia animado e um sorriso. Mas a colega falou algo que, por mais que tentasse agora, não conseguia lembrar. Na verdade, não conseguia lembrar-se muito bem de nada após aquilo. Mas não tinha importância. A única coisa de que precisava lembrar-se era de como havia respondido.
Ao ouvir a resposta ao seu bom dia daquela colega que costumava fazê-la sentir-se mal, Paloma levantou sorrindo e sentindo-se leve e pegou um taco de madeira que estava embaixo de sua mesa. Não sabia como aquilo havia ido parar ali, mas isso também não tinha importância nenhuma. Aproximou-se sentindo-se muito, muito feliz e disferiu um golpe na cabeça dela. Gritou de alegria, pois o sangue que jorrou de sua cabeça era de um vermelho-vivo lindíssimo. Bateu de novo. E de novo. E de novo. Bateu até que seus braços começaram a doer. E então olhou em volta e viu os rostos de seus colegas, horrorizados. Não entendeu nada, estava tão feliz! Aquele era o dia perfeito.
Em pouco tempo, apareceram várias pessoas estranhas, a seguraram algemaram, colocaram em um carro. Ela continuava sem entender, mas não tinha importância. Aquele era o dia perfeito.
Nada poderia estragar aquele dia: nem as pessoas que a algemaram, nem as pessoas que lhe fizeram um monte de perguntas sem sentido sobre os motivos que a levaram a cometer um tal assassinato, nem as pessoas de branco que a examinaram, amordaçaram, colocaram uma camiseta engraçada nela e a puseram sozinha em uma pequena sala sem janelas. Nada daquilo tinha importância, porque aquele foi o dia perfeito, assim como o dia depois dele, o dia depois deste e todos os outros dias desde então. Paloma nunca mais havia se sentido triste, ansiosa, irritada, solitária, nem nunca mais havia tido qualquer sentimento ruim. Ela agora estava sempre feliz e todos os dias eram o dia perfeito.
Sua vida agora era perfeita.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
Pensamentos avulsos II
Toda vez que fecho os olhos, vejo a sua imagem. Clichê, eu sei. Mas nem por isso deixa de acontecer. Inexplicavelmente, pois nem te conheço ainda (e talvez nunca venha a conhecer), está sempre rondando meus pensamentos: quando estou dormindo ou acordada, em casa ou no trabalho, ouvindo música, assistindo a um vídeo, o que quer que esteja fazendo, você está sempre por aqui. Acho muito estranho. Te vi, gostei, mas não dei muita importância. Mal sabia o que me esperava! Tentei ser racional. Afinal, pensei, pode nem ser tão interessante. E também não faz o menor sentido, essa cisma com você.
Às vezes você some. Fico um pouco ansiosa, mas me dá um alívio. Penso: "Tomara que nunca mais te veja de novo!" Mas aí você entra por aquela porta e... E sempre levanto a cabeça bem na hora, para te ver caminhando em minha direção como se o mundo estivesse em câmera lenta. Meu coração dispara, eu engulo em seco, sinto o sangue correr depressa pelo meu rosto, quase posso vê-lo fazendo seu caminho por cada pequena veia e sei que estou ridiculamente, vergonhosamente, corada. Minhas mãos suam e tremem e toda a minha atenção esta agora voltada para você. Exceto pelo fato de que começo a pensar no quanto isto é, ao mesmo tempo, ridículo e cômico.
Até mesmo te ver de relance na rua me tira do eixo. Posso passar de um estado calmo e relaxado a um nervoso terrível em poucos segundos.
Quando você não aparece, faço um esforço para entender e esquecer. Porque acredito que para esquecer, primeiro é necessário entender. Mas não entendo muito bem. Ponho em evidência que você pode não ser nada do que imagino. Pode ser pior do que o pior dos piores. Pode ser um banana. Só que banana é minha fruta favorita...
Mesmo com tudo isso, se você nao estiver presente, e ainda que continue a martelar meus pensamentos, lentamente, muito lentamente, sua imagem começa a desvanecer e sinto novamente o alívio e a esperança de que tudo foi uma bobagem, fruto de uma mente romântica e fantasiosa. E pode ser, mesmo. Mas aí você aparece novamente e pronto: todo meu esforço vai por água abaixo só com te ver. E tudo o que me resta é soltar um suspiro de resignação e aguardar o dia em que poderei por tudo à prova ou por aquele em que você vai sumir de vez e eu nunca mais vou te ver. Acho que ficaria satisfeita com qualquer uma das duas opções. Até lá, só me resta ficar neste limbo...
Às vezes você some. Fico um pouco ansiosa, mas me dá um alívio. Penso: "Tomara que nunca mais te veja de novo!" Mas aí você entra por aquela porta e... E sempre levanto a cabeça bem na hora, para te ver caminhando em minha direção como se o mundo estivesse em câmera lenta. Meu coração dispara, eu engulo em seco, sinto o sangue correr depressa pelo meu rosto, quase posso vê-lo fazendo seu caminho por cada pequena veia e sei que estou ridiculamente, vergonhosamente, corada. Minhas mãos suam e tremem e toda a minha atenção esta agora voltada para você. Exceto pelo fato de que começo a pensar no quanto isto é, ao mesmo tempo, ridículo e cômico.
Até mesmo te ver de relance na rua me tira do eixo. Posso passar de um estado calmo e relaxado a um nervoso terrível em poucos segundos.
Quando você não aparece, faço um esforço para entender e esquecer. Porque acredito que para esquecer, primeiro é necessário entender. Mas não entendo muito bem. Ponho em evidência que você pode não ser nada do que imagino. Pode ser pior do que o pior dos piores. Pode ser um banana. Só que banana é minha fruta favorita...
Mesmo com tudo isso, se você nao estiver presente, e ainda que continue a martelar meus pensamentos, lentamente, muito lentamente, sua imagem começa a desvanecer e sinto novamente o alívio e a esperança de que tudo foi uma bobagem, fruto de uma mente romântica e fantasiosa. E pode ser, mesmo. Mas aí você aparece novamente e pronto: todo meu esforço vai por água abaixo só com te ver. E tudo o que me resta é soltar um suspiro de resignação e aguardar o dia em que poderei por tudo à prova ou por aquele em que você vai sumir de vez e eu nunca mais vou te ver. Acho que ficaria satisfeita com qualquer uma das duas opções. Até lá, só me resta ficar neste limbo...
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