Será que as minhas escolhas são minhas? E meus desejos e
sonhos? Será que sou realmente livre? Existe felicidade? Às vezes penso que
somos todos marionetes da sociedade e a sociedade é marionete de si própria.
Conscientemente ou não, fazemos escolhas, sonhamos e desejamos de acordo com
aquilo que a sociedade verá e pensará do que fizermos. Por exemplo: sou
monogâmica. Mas será que sou assim por que eu decidi que prefiro a monogamia ou
é por que a sociedade em que vivo condena relacionamentos com mais de um
parceiro? Como vou saber se prefiro mesmo ser monogâmica se nunca experimentei
a bigamia ou a poligamia? E por que o medo de experimentar o novo? Vá lá que se
o senso comum diz que algo não é bom, deve haver um (bom) motivo. Mas sempre é
válido parar pra refletir. Pode ser que o senso comum não faça sentido.
Falar de senso comum me fez lembrar da já citada liberdade.
Sim, pois estamos acostumados a ouvir que somos livres. Mas que liberdade é
esta, que nos faz levantar cedo todos os dias para trabalhar em um lugar do
qual não gostamos, com uma atividade que detestamos, por exemplo? É estranha
uma liberdade que nos obriga a ir à escola, quando poderíamos aprender em casa,
ou uma liberdade que faz alguém esconder sua sexualidade. Por puro medo. E não
é só medo de apanhar, mas também de ser excluído de um determinado grupo,
afinal o bicho homem é um animal que geralmente gosta e precisa viver em
sociedade. E se resolvemos ser livres de verdade, temos de encarar
consequências bastante duras de suportar. Lembro-me de uma época em que
estudava Wicca, a assim chamada: “Religião das Bruxas”. Nesta época eu havia
recém-ingressado no meu local de trabalho, então as pessoas ficaram
naturalmente curiosas a meu respeito e fizeram as perguntas de praxe. Quando
quiseram saber de minha religião, cogitei não falar, pois não é comum encontrar
bruxas/os por aí e as pessoas realmente estranham. Mas pensei que vivo em um
Estado laico e, além disto, se outras pessoas têm o direito de crer em um deus
que comprovadamente não passa de uma colcha de retalhos, por quê eu não poderia
crer em deuses que são os próprios retalhos utilizados para fabricar tal
colcha? Pois bem: eu disse no que acreditava e o que meus colegas fizeram foi
rir da minha cara, debochar de mim e dos meus deuses. Nunca vou esquecer
daquele dia, do que eu senti naquela ocasião...
Por fim, há a questão da felicidade. Um sentimento que
deveria ser bom, mas tornou-se motivo de estresse e, sim, tristeza. Pois agora
somos obrigados a ser felizes. Pode?
Não, não pode. A felicidade não é uma obrigação. E a bem da verdade, acho que a
felicidade não é mais do que o que sentimos em alguns bons momentos. As pessoas
agem como se fosse possível ser feliz o tempo todo, andar por aí sempre com um
sorriso idiota estampado na cara. Mas como alguém pode se sentir feliz quando o
chefe vem te encher o saco tentando ensinar como se faz o serviço que você já
conhece de cor e salteado? Ou quando o namorado ou namorada fica te enchendo
por causa de ciúmes bobos? Sinceramente, esta busca incessante por uma
felicidade constante me irrita muito. Mas também me faz rir. Bem, eu acho
realmente engraçado ver as pessoas desesperadas e descabeladas por que não são felizes, porém mal percebem quando estão felizes. E todos aqueles livros de
auto-ajuda? Como um ser humano, que é teoricamente inteligente, pode cair numa
esparrela destas? Ora, se é auto-ajuda, só pode ajudar a quem escreveu, certo?
Sem contar que neste tipo de livro geralmente está escrito o óbvio. É claro que
se eu gastar mais do que tenho, contrairei uma dívida. Se eu for excessivamente
ciumenta com as pessoas, elas vão se afastar de mim. Se eu não me esforçar no
trabalho, não terei nenhuma chance de ser promovida. Obviedades. No entanto, as
pessoas parecem gostar de pagar para ler e às vezes até ouvir o óbvio.
Enfim, as pessoas deviam parar de se preocupar e aborrecer
tanto com e por coisas fúteis. E deviam parar de engolir tudo que tentam jogar
por suas pobres goelas abaixo. Pensar, ao contrário do que muitos pensam, não
faz mal à saúde. Claro é que parar para refletir e repensar as coisas que
fazemos, muitas vezes de forma automática, é um ato que por si só pode e,
provavelmente, vai mudar muita coisa na vida de quem tomar esta atitude. É um
ato que, no mínimo, vai mudar o jeito dela de ver, pensar e sentir tudo a seu
redor e fazer a pessoa ter pelo menos a consciência de que certas coisas não
são bem aquilo que parecem ser. Além disto, ter (ou achar que tem) consciência
de como as coisas realmente são torna tudo mais difícil, pelo menos a meu ver,
mas também torna as coisas mais práticas e leves. De fato, é como se um peso
fosse tirado dos seus ombros, para usar uma expressão bem manjada, e você
pudesse respirar um pouco melhor (outra expressão manjada). Acredito que viver
tão preocupada com muitas pequenas coisas, faz a pessoa se perder e sentir
sufocada dentro da própria cabeça e atrapalha a capacidade de raciocinar,
portanto, de resolver aquilo que realmente pode ser chamado de problema. Além
disso, estresse dá ruga e rugas de aborrecimento ninguém quer ter! Bom, é isso.
Obrigada a quem leu e desculpem pela encheção de saco!
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