segunda-feira, 26 de março de 2018

Sobre objetividade

Esses dias ouvi de uma pessoa do meu convívio que me falta objetividade. Isto não me foi dito como uma grosseria, mas sim como uma dica e estava relacionada a uma situação bem específica. E, assim que foi dito, senti como se tivessem acendido um interruptor na minha mente. Porque era isso o que estava faltando. Era nisto que eu estava errando. Porque a minha vida sempre  parecia voltar para o mesmo ponto, que era o ponto morto. E eu estava andando em círculos.
Mas a partir do momento em que ouvi aquela palavra, dita daquela forma, eu entendi tudo. E agora já posso parar de andar em círculos, e entrar em um caminho linear, cuja única direção possível é para a frente.

domingo, 18 de março de 2018

Pensamentos avulsos III

...às vezes parece que ainda não comecei a viver minha vida. como se estivesse esperando por alguma coisa, como se esperasse algo acontecer para então dar início a... o que? não saberia dizer exatamente como ou o que é uma vida que já começou. só sei que a minha já está correndo, mas ao mesmo tempo é como se estivesse parada. vejo todos passando por mim, vejo o tempo passar, vejo um desfile de coisas, de assuntos, de tendências do momento, que mudam a todo momento, claro. mas quando se trata de minha própria vida, vejo apenas um caminho pavimentado e tudo em torno é muito escuro, apenas este caminho de cimento, duro, áspero, longo, quase como se fosse interminável e que é perfeitamente visível. de resto, tudo um breu. isso me assusta um pouco. e se...? e se no fim eu estiver só, se não houver ao meu redor ninguém que eu conheça, ninguém que eu ame ou amei e que me ame de volta? porque no fim das contas tudo se resume a isso: aqueles que te amam. não, não é bem isso. ou é? bem, tenho a sensação de que o mundo é muito grande e eu, muito pequena. tenho a sensação de que se morrer sem ninguém, terei fracassado na vida e este será o pior dos fracassos. afinal, se você falha em algo, pelo menos você tentou e sempre vai ter alguém pra te dizer isso com toda a sinceridade e pra te apoiar e te consolar. mas se você não tem ninguém... se você não tem ninguém, a vida é como um abismo e você só vai caindo, caindo... e quando chegar lá embaixo não morrerá, mas encontrará uma solidão terrível e será tudo muito escuro e muito assustador e você será pequeno, pequeno... e as únicas coisas que haverá ao seu redor serão seus medos e não haverá ninguém para te proteger deles, para dizer que foi tudo um pesadelo e vai ficar tudo bem, é só um sonho ruim, volte a dormir e sonhe com os anjos... não, definitivamente não haverá ninguém e nada além dos seus medos. e você estará sozinho com eles, lutará sozinho contra eles e, mesmo que vença, sua vitória terá um gosto amargo, terrível, porque você não terá com quem compartilhar. por isso, trate de não estar sozinho e trate de  não passar muito tempo dentro desta cabecinha porque sempre tem uma Paloma à espera do menor erro, da menor brecha, para escapar de sua cela e te dar o dia perfeito.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Amar a quem

Ser um ser apaixonado
E não ter a quem oferecer
E ver o riso virar lágrimas
Lágrimas que às vezes doem
E às vezes aliviam

Amar e não ter a quem
E querer rasgar o peito
E gritar
E cantar

Sofrer sem querer
Estar aberto
Ante uma porta fechada
E cegar
E calar
Por não ter a quem ver
E falar:
Eu te amo!

quinta-feira, 15 de março de 2018

No calor do momento

Não sei se é o calor que me derrete
Ou se eu é que me derreto por você
Mas tudo se mistura
O doce com salgado
Áspero e suave
E nos meus lábios
O gosto que devem ter os seus
E a malícia inocente
Que devem ter seus beijos
Imagino eu...

segunda-feira, 12 de março de 2018

O Monstro

O monstro estava parado com o olhar fixo. Ele tinha os olhos vermelhos de raiva e de dor. Era um monstro muito perigoso. Seus olhos eram fundos e traziam enormes olheiras roxas, escuras, profundas. Os ossos malares eram pronunciados e as faces, chupadas. Sua pele, contudo, era surpreendentemente bronzeada e de aspecto vivo e saudável. E, de fato, aquele monstro estava vivo e prestes a despertar.
Sua figura estava quase completamente imóvel, exceto pelo subir e descer de seu peito magro e ossudo, adornado por pequenos seios redondos, enquanto respirava. A cada vez que inalava o ar, seus olhos e olheiras pareciam escurecer mais um pouco e sua fisionomia adquiria um quê cada vez mais acentuado de crueldade. O monstro era feito de maldade pura. Ele era feito de tudo de ruim que havia.
O monstro sentia ódio. Era disso que ele se alimentava, também. E a dor de mil feridas abertas e sangrando não o permitia pensar em outra coisa. O monstro estava acorrentado e isso só provocava mais ódio. Mas enquanto acordava, ele puxava suas correntes e, assim, elas estavam quase arrebentando. Faltava pouco, agora... E seu carcereiro seria um brinquedo em suas garras afiadas e alimento em suas presas famintas. Ele iria sair dali e todos que se pusessem em seu caminho seriam esmagados sob seus pés, com toda a força de sua fúria. Ele era um monstro.
Mas então uma luz se acendeu, atrapalhando sua visão mais acostumada ao escuro e a porta da cela se abriu. Um anjo entrou.
O anjo trazia correntes em suas mãos, correntes novas, brilhantes, fortes. O monstro começou a se debater, pois percebeu que seria mantido preso, e suas correntes antigas se soltaram das paredes e ele avançou sobre o anjo de luz. Mas o anjo espalhou aquela claridade brilhante em frente ao monstro como se fosse uma barreira, uma que ele não conseguiria ultrapassar. O monstro bateu na barreira e foi jogado para o fundo de sua cela, onde o anjo o aprisionou em suas novas correntes e o subjugou e, com um toque em sua testa, o fez cair desacordado.
Neste momento, Paloma deu por si parada em frente ao espelho, com um olhar que nunca havia visto antes em seu próprio rosto e a boca retorcida em um sorriso maldoso e sarcástico. Ela estremeceu, secou as lágrimas que escorreram sem que houvesse percebido e saiu dali. "Estou muito cansada, pensou, melhor começar a dormir mais cedo."
Assim, Paloma partiu para iniciar mais um dia de trabalho, sem perceber o monstro de olhar louco e sorriso maldoso e sarcástico que ficara a observá-la do espelho...

Momento crepuscular

Andando à noite, sozinha
Sentindo a tristeza envolver minha alma
como se fossem os tentáculos de um polvo

Gostaria de explodir
em um milhão de pedacinhos de raiva pura
E que os meus estilhaços batessem nas paredes
com toda a força do ódio

Que as paredes e os muros e as coisas e as pessoas
E todo o mundo inteiro
Que tudo desabe apenas com a força
e o peso dos meus passos


Que nada sobre para contar a história
Nem eu.

sábado, 10 de março de 2018

O nome da felicidade

Guardo na mente a sua face
Que bem unânimes meus olhos vêem bela
E me dá um tão grande prazer
Sonhar, ver, sorrir, voar e amar.

Beleza não põe a mesa
Mas a minha já está posta
Com café da manhã, almoço e janta.

O nome da felicidade é o seu.

A moça apaixonada

Denise estava quase pedindo a Deus, embora fosse atéia. Não se lembrava qual era a última vez em sua vida que havia desejado algo com tanta força, nem com tanta vontade. Ela havia se apaixonado.
Não era ainda amor o que Denise sentia, nem poderia ser, já que não sabia nada a respeito daquele homem, a não ser uma ou duas coisas de menor relevância.
Entretanto, desde sua adolescência que ela não sentia algo tão puro e nunca havia sentido nada tão leve, pois até mesmo seus amores de adolescente vinham acompanhados do peso da angústia de não saber se seria correspondida. Não que ela soubesse agora. Mas não saber se era desejada de volta não a fazia sofrer como em todas as outras vezes.
Ela o havia conhecido por acaso e jamais esperaria interessar-se por ele. Estava um pouco surpresa, na verdade, que houvesse acontecido. Estava surpresa por tudo, na realidade.
Ao pensar nele ou simplesmente ter um vislumbre da imagem dele em sua mente, a moça sentia seu coração disparar e bater de um jeito que se assemelhava ao bater das asas de um beija-flor, o que causava uma pressão em seu peito e a fazia sentir como se o coração fosse subir por sua garganta e pular pra fora da boca e começar a voar como uma borboleta que fosse apenas carregada pelo vento.
Frequentemente, Denise se pegava olhando para o nada, com um sorrisinho bobo e tinha vontade de chorar e rir ao mesmo tempo. Às vezes, tinha vontade de gargalhar. Estava simplesmente tão feliz!
Ela não conseguia tirá-lo da cabeça. Em um momento qualquer, a todo momento, seu rosto vinha à mente. Denise se lembrava de seus olhos grandes, que carregavam um olhar que transmitia ao mesmo tempo firmeza e suavidade; um olhar que deixava claro que aquele era um homem seguro de si em confiante em si; lembrava-se de sua boca tão bem desenhada, cujos lábios pareciam estar sempre prestes a se abrir num sorriso que sempre a fazia esquecer até mesmo seu próprio nome, por um momento; lenbrava-se de sua risada, que tinha um som mais lindo do que a música mais linda que ela já ouvira; lembrava-se de seu corpo esguio e ágil... Ele nunca estava muito longe do centro de sua mente. Às vezes, parecia que se esticasse a mão, ele se materializaria bem ao seu alcance.
Denise nunca se sentira tão bem antes, ao se apaixonar. Nem acreditava que estava feliz assim. Nem entendia por que estava feliz assim. Só entendia que o queria pra si, mais que tudo, mais que todos. Precisava dele. Mas se não o tivesse, ainda assim poderia explodir de felicidade.
Denise se levantou e sorriu. Respirou fundo e viu a imagem dele mais uma vez em sua mente. Foi embora terminar seu turno e pensou que fosse como fosse, era assim que deveria sentir-se sempre: feliz.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Sobre o medo

Uma das piores coisas que uma pessoa pode fazer consigo mesma é viver com medo. E eu tenho vivido com medo por muito tempo. De fato, tenho vivido assim a vida toda e esse medo tem sido meu monstro embaixo da cama.
Eu sinto medo das pessoas. Tenho medo do julgamento que vão fazer de mim. Sei que as pessoas julgam e aquelas que dizem que não, são as que mais julgam.
Tenho medo da reação que as pessoas possam ter quando eu não for, não fizer ou não disser o que elas esperam.
Tenho medo do que as pessoas vão sentir em relação a mim e do que vão pensar de mim se eu deixar a desejar.
Tenho medo de dar o passo errado e acabar caindo em algum buraco. Tenho medo de dar o passo certo, mas descobrir que não era o certo para mim.
Tenho medo de me casar e de ter filhos. Tenho medo de me apaixonar novamente e tenho medo de ser correspondida.
Tenho medo de ser eu mesma.
Eu tenho tanto medo que sinto vontade de gritar. Tanto medo, que às vezes sinto dores físicas pela tensão mental que se reflete no meu corpo em forma de tensão muscular.
Eu tenho medo de explodir de tanto medo.
Mas não é justo. Eu não estou sendo justa comigo mesma, sei disso.
Mas agora chega. É hora de dar um basta nisso. Decidi que, de hoje em diante, vou combater essa condição que tanto mal tem me feito. Vou respirar fundo, estufar o peito e me encher de coragem, ou pelo menos me esvaziar do medo máximo possível.

Reticências

Existem dias na vida em que nos sentimos mal por tantos motivos que nem podemos explicar por quê estamos assim, caso alguém pergunte. E este é um desses dias.
A parte estranha deste dia é que não passei o tempo todo abatida, como muito frequentemente acontece quando estou na TPM, por exemplo. Foi um dia de altos e baixos, durante o qual eu ri, brinquei, conversei, porém no fundo sempre tinha uma sombra escurecendo um pouco todos esses momentos agradáveis.
Este dia não aconteceu de repente. Ele é só mais um dia estranho entre tantos outros que tenho vivido ultimamente. E por ultimamente, quero dizer todos os dias e anos da minha vida dos quais consigo recordar com certa clareza.
Porém está ficando pior.
Passei por um longo período de reclusão quase total, onde praticamente só saía de casa para trabalhar.
No começo foi duro. Eu estava acostumada a ter uma vida bastante agitada, trabalhava muito, mas também saía muito para me divertir em  bares, baladas, casas de amigos ou na rua mesmo. O importante era sair de casa, de resto não tinha tempo ruim.
Até que meu último relacionamento terminou e eu me vi num limbo da minha própria vida. Já nada nem ninguém me dizia respeito, nada nem ninguém tinha nada a ver comigo, eu já não sabia quem era, só sabia que não era mais aquela que eu estava acostumada a ser. Não sabia o que dizer, nem o que fazer. Decidi que precisava passar um tempo sozinha.
E o tempo passou.
Me acostumei a estar sozinha de uma tal forma que comecei a acreditar que gostava daquilo. Dizia isso para todas as pessoas do meu convívio (a saber: minha família e colegas de trabalho) e não estava mentindo. Na minha cabeça, aquilo era verdade. Me trancava no quarto com meu notebook e meu celular, desligava minha mente de tudo e ficava parada na frente das telas com a boca aberta e a cabeça vazia. Já posso ver que era uma forma de fugir da realidade e tenho que ser sincera: ainda faço isso, apenas não com tanta frequência nem por tanto tempo, mas faço.
Enfim.
O tempo passou e, em algum lugar bem lá no fundo, algo começou a se mexer. Foi mais ou menos como quando a gente dorme demais e acorda lentamente e sentindo alguma confusão (quem sou/onde estou).
Aos poucos, fui me dando conta daquilo em que a minha vida tinha se transformado.
Não era nada demais, se comparado aos problemas de outras pessoas ao redor do mundo. Mas eu vivo principalmente no meu mundo, e no meu mundo, aquela visão era assustadora, pior que qualquer pesadelo. Pior do que Aquele Dia Há Pouco Mais de Sete Anos Atrás, como eu chamo. Aliás, este foi o dia em que eu não senti nada e foi o pior dia da minha vida. Mas já passou, então vamos focar no que interessa porque é o que está acontecendo agora.
Quando olhei para aquilo em que minha vida tinha se transformado, levei um choque. Era e ainda é um pouco difícil entender como aquela vida tinha se transformado nesta vida. Foi e é difícil entender a dimensão da solidão em que me encontro, porque nunca estive tão sozinha. E, de todas as coisas, essa é a que mais me fere. Ter amigos e amores é essencial na vida de qualquer ser humano e comigo não é diferente. Porque sinto que tenho um monte de gente com quem falar, mas não há ninguém para me escutar.
Eu poderia pedir ajuda, inclusive profissional. Sei muito bem que o caos em que se encontra minha cabeça não é nada salutar. Mas também sei que será melhor pra mim mesma se conseguir resolver meus próprios problemas sozinha. Só que é tão difícil!
Porque todo o autocontrole que tenho tido ao longo da vida inteira e que é uma coisa monstruosa de tão cruel está começando a falhar. E saiba, não sou uma pessoa calma, nem paciente; apenas me inflijo doses enormes de autocontrole. Uso o autocontrole como um cilício, como um enforcador, me dilacero. Me causa muita dor. Por isso nunca perco as estribeiras. Não por tranquilidade. Não por paciência. Mas por autocontrole. E pela dor que ele causa.
Espero sincera e ansiosamente pelo dia em que vou poder olhar para trás e ver este dia como aquela pelinha solta que a gente puxa de uma vez só: dói e machuca, mas logo sara.