terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sofrer é ser feliz

Todo começo está fadado ao fim e todo fim ao sofrimento, para todas as partes. Mesmo para aquelas que se dizem felizes. Pois a felicidade é feita de momentos, mas os momentos são feitos do sofrimento que nos impulsionou para a frente apenas  para buscar um alívio para a nossa dor. O sofrimento te trouxe ao mundo e dele te levará.

domingo, 30 de setembro de 2012

Morte

A morte.
À morte.
Ah, Morte!
A morte, com sorte,
fará em mim seu corte.
Oh, ser de belo porte!
Desejo que me transporte
a seu mundo sem norte, sem morte.
Oh, Morte!
Que assistas a meus últimos estertores,
me arranque de meus amores, pois são também as minhas dores
Me esvazie de cores,
oh, Morte!

Do Inferno ao Paraíso e de volta.

sábado, 15 de setembro de 2012

Palavras no vácuo da mente insana

Hoje não sou ninguém.
Sou uma santa;
sou uma deusa.
Sou a voragem de palavras desprezíveis e não pronunciadas.
Nada: é isto o que sou (e tudo o que jamais serei).

domingo, 29 de julho de 2012

Ensaio do Banquete Libertino


(A Sede de Luxúria e a Fome de Prazer se encontram e dão início a um banquete libertino.).      (Fome: - A Sede é forte. A Sede forte se enrola em meus cabelos, desliza pelo meu corpo e me faz estremecer. A sede me puxa e me aperta onde eu sinto fome. A fome se contorce e serpenteia entre as mãos sedentas, e sua sede aumenta... ).                                                                                                   São uma sede quente e uma fome pulsante. São vivos e têm urgência. Apressam-se, para amenizar a sede e diminuir a fome. Empurram-se e voltam a se juntar, e juntos crescem, crescem...
(Sede:- A Fome é intensa e volteia conforme eu me enrolo mais e mais em si. Movimenta-se comigo e parece que chegaremos a um acordo, mas então afasta-se por um instante e volta a arremeter de maneira totalmente diversa. Uma maneira que estimula a minha sede tanto que me faz querer pedir água. A Fome é tão intensa e se funde em mim com tanta perfeição, que às vezes sinto mesmo dificuldade em distinguir quem é Sede e quem é Fome. A fome vai e a Fome volta e a Fome, a Fome...)
E então a sede transborda e a fome esborda , unidos em um grito que diz que ambos foram saciados. E o Banquete Libertino foi encerrado.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Uma divagação sobre sonhos, liberdade e felicidade.


Será que as minhas escolhas são minhas? E meus desejos e sonhos? Será que sou realmente livre? Existe felicidade? Às vezes penso que somos todos marionetes da sociedade e a sociedade é marionete de si própria. Conscientemente ou não, fazemos escolhas, sonhamos e desejamos de acordo com aquilo que a sociedade verá e pensará do que fizermos. Por exemplo: sou monogâmica. Mas será que sou assim por que eu decidi que prefiro a monogamia ou é por que a sociedade em que vivo condena relacionamentos com mais de um parceiro? Como vou saber se prefiro mesmo ser monogâmica se nunca experimentei a bigamia ou a poligamia? E por que o medo de experimentar o novo? Vá lá que se o senso comum diz que algo não é bom, deve haver um (bom) motivo. Mas sempre é válido parar pra refletir. Pode ser que o senso comum não faça sentido.
Falar de senso comum me fez lembrar da já citada liberdade. Sim, pois estamos acostumados a ouvir que somos livres. Mas que liberdade é esta, que nos faz levantar cedo todos os dias para trabalhar em um lugar do qual não gostamos, com uma atividade que detestamos, por exemplo? É estranha uma liberdade que nos obriga a ir à escola, quando poderíamos aprender em casa, ou uma liberdade que faz alguém esconder sua sexualidade. Por puro medo. E não é só medo de apanhar, mas também de ser excluído de um determinado grupo, afinal o bicho homem é um animal que geralmente gosta e precisa viver em sociedade. E se resolvemos ser livres de verdade, temos de encarar consequências bastante duras de suportar. Lembro-me de uma época em que estudava Wicca, a assim chamada: “Religião das Bruxas”. Nesta época eu havia recém-ingressado no meu local de trabalho, então as pessoas ficaram naturalmente curiosas a meu respeito e fizeram as perguntas de praxe. Quando quiseram saber de minha religião, cogitei não falar, pois não é comum encontrar bruxas/os por aí e as pessoas realmente estranham. Mas pensei que vivo em um Estado laico e, além disto, se outras pessoas têm o direito de crer em um deus que comprovadamente não passa de uma colcha de retalhos, por quê eu não poderia crer em deuses que são os próprios retalhos utilizados para fabricar tal colcha? Pois bem: eu disse no que acreditava e o que meus colegas fizeram foi rir da minha cara, debochar de mim e dos meus deuses. Nunca vou esquecer daquele dia, do que eu senti naquela ocasião...
Por fim, há a questão da felicidade. Um sentimento que deveria ser bom, mas tornou-se motivo de estresse e, sim, tristeza. Pois agora somos obrigados a ser felizes. Pode? Não, não pode. A felicidade não é uma obrigação. E a bem da verdade, acho que a felicidade não é mais do que o que sentimos em alguns bons momentos. As pessoas agem como se fosse possível ser feliz o tempo todo, andar por aí sempre com um sorriso idiota estampado na cara. Mas como alguém pode se sentir feliz quando o chefe vem te encher o saco tentando ensinar como se faz o serviço que você já conhece de cor e salteado? Ou quando o namorado ou namorada fica te enchendo por causa de ciúmes bobos? Sinceramente, esta busca incessante por uma felicidade constante me irrita muito. Mas também me faz rir. Bem, eu acho realmente engraçado ver as pessoas desesperadas e descabeladas por que não são felizes, porém mal percebem quando estão felizes. E todos aqueles livros de auto-ajuda? Como um ser humano, que é teoricamente inteligente, pode cair numa esparrela destas? Ora, se é auto-ajuda, só pode ajudar a quem escreveu, certo? Sem contar que neste tipo de livro geralmente está escrito o óbvio. É claro que se eu gastar mais do que tenho, contrairei uma dívida. Se eu for excessivamente ciumenta com as pessoas, elas vão se afastar de mim. Se eu não me esforçar no trabalho, não terei nenhuma chance de ser promovida. Obviedades. No entanto, as pessoas parecem gostar de pagar para ler e às vezes até ouvir o óbvio.
Enfim, as pessoas deviam parar de se preocupar e aborrecer tanto com e por coisas fúteis. E deviam parar de engolir tudo que tentam jogar por suas pobres goelas abaixo. Pensar, ao contrário do que muitos pensam, não faz mal à saúde. Claro é que parar para refletir e repensar as coisas que fazemos, muitas vezes de forma automática, é um ato que por si só pode e, provavelmente, vai mudar muita coisa na vida de quem tomar esta atitude. É um ato que, no mínimo, vai mudar o jeito dela de ver, pensar e sentir tudo a seu redor e fazer a pessoa ter pelo menos a consciência de que certas coisas não são bem aquilo que parecem ser. Além disto, ter (ou achar que tem) consciência de como as coisas realmente são torna tudo mais difícil, pelo menos a meu ver, mas também torna as coisas mais práticas e leves. De fato, é como se um peso fosse tirado dos seus ombros, para usar uma expressão bem manjada, e você pudesse respirar um pouco melhor (outra expressão manjada). Acredito que viver tão preocupada com muitas pequenas coisas, faz a pessoa se perder e sentir sufocada dentro da própria cabeça e atrapalha a capacidade de raciocinar, portanto, de resolver aquilo que realmente pode ser chamado de problema. Além disso, estresse dá ruga e rugas de aborrecimento ninguém quer ter! Bom, é isso. Obrigada a quem leu e desculpem pela encheção de saco!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

As florestas gritam, e as coisas nas florestas gritam, mas o silêncio é o grito mais ensurdecedor, nas florestas...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A História da Vida de uma Menina e da Morte de um Homem

Uma menina grita,
um homem escuta.
Uma menina tem medo,
um homem pode salvá-la, ou
um homem pode amedrontá-la ainda mais.
Um homem é mau.
Uma menina está em apuros!
Uma menina sente dor, porque
um homem abusou dela.
Uma menina pensa que vai morrer;
um homem pensa que vai se safar, mas
um homem está enganadado, pois
uma menina também se enganou:
uma menina sobreviveu
e um homem fugiu.
Um homem não é mais um homem.
Uma menina agora é uma mulher.
Um menino não consegue correr rápido o suficiente e
uma mulher quer vingaça.
Uma mulher está armada.
Um menino está em apuros:
uma mulher está atrás dele.
Logo atrás dele...

História de Amor

Um dia, rastejando pelo bosque,
cobra cega vi você,
borboleta
Quis te ter, mas você era livre e voou
E eu permaneci presa na escuridão

Há um tempo, anoitecendo no Ocidente
te vi de esguelha,
amanhecendo no Oriente
Fui atrás de ti, mas
quando cheguei, já estava do outro lado

Uma vez, da minha casa
vi você passando
Quis ir junto, mas
eu era a sedentária
e você, o nômade

Outro dia, te olhei nos olhos
e eles eram negros como os meus
Sorri, pois tive esperança
Mas anoiteceu e eu percebi
que você era a Liberdade
e eu, a Prisão

Chorei e arranquei minhas grades,
mas você já partira com o vento...

sábado, 30 de junho de 2012

A ilustração


Ela havia comprado a ilustração em uma lojinha de presentes e utilidades que havia perto da lanchonete onde trabalhava. Era uma loja nova, muito pequena e abarrotada, um verdadeiro caos. As ilustrações, no entanto, estavam muito distinguíveis em meio à bagunça e foram a primeira coisa em que ela reparou ao entrar com as marmitas. Não poderia ter sido diferente: eram duas imagens em 3-D. Em uma delas havia dois tigres muito bonitos, mas também muito inquietantes. A outra representava uma paisagem ondfe havia um caminho de cascalho ladeado por árvores de aspecto outonal, sob as quais estavam caídas muitas folhas amarelas. O caminho levava a uma casa branca, bem simples, com duas janelas e uma porta na frente e um telhado aparentemente coberto de musgo. Para além da casa e das árvores estendia-se um campo coberto das folhas que o vento havia carregado, mais duas colinas ao fundo. O céu acima era muito azul, num tom que sugeria um tempo ligeiramente fresco, como era o outono que conhecia. 
A imagem encheu a moça de uma tranquilidade tão boa, grande e suave como ela jamais sentira antes. Decidiu que aquela imagem ficaria à frente de sua cama, para que pudesse dormir olhando-a, sentindo essa sensação.Perguntou à mulher da loja quanto custava a ilustração e pediu que a guardasse, pois iria buscá-la mais tarde.
E foi.
Ao chegar em casa encaixou-a em uma antiga moldura, que encontrara entre as coisas de sua infânica, guardadas em quartinho nos fundos do quintal. Pendurou o quadro na parede em frente à cama e sorriu, satisfeita por ver que a cena era exatamente do jeito que imaginara. Depois deitou e ficou ali, a admirar aquela maravilha até cair no sono. Sonhou que estava no caminho de cascalho, usando um vestido branco de algodão e com os cabelos escuros caindo em cachos ao longo das costas.
Por vários dias depois daquilo, a moça cumpriu o mesmo ritual: chegava em casa, tomava banho, jantava e deitava-se de frente para a imagem. Perguntava-se quem teria criado algo tão belo, tranquilo e agradável e sonhava o mesmo sonho da primeira noite.
No sétimo dia, enquanto admirava o quadro e ouvia uma de suas músicas favoritas, ela viu as folhas nas árvores se mexerem.
Tomou um susto, levantou-se e olhou mais de perto: nada. Devia ser imaginação, pois estava cansada e com sono. Entretanto, ao abaixar a cabeça, preparando-se para deitar novamente, ela viu mais uma vez a leve movimentação das folhas. Desta vez as que estavam no chão também se moveram. A moça começou a achar que estava enlouquecendo e botou a mão sobre o caminho na pintura, soltando uma exclamação ao sentir ser puxada por algo de dentro da ilustração. Ppodia sentir os pelos do corpo arrepiando-se de surpresa, medo e prazer,, pois o que ela tanto desejara estava agora acontecendo. Sentiu então o corpo relaxar e se deixou levar pela suave sensação de ser puxada para dentro da pintura. 
Quando acabou, ela estava e uma espécie de depósito, um lugar pequeno, com cheiro de fubá e café. Olhou em volta e percebeu que era uma despensa. Depois, olhou para baixo, para seu corpo e viu que usava as mesmas roupas do sonho. Ficou urpresa, mesmo constatando que já sabia. Estava exatamente com a mesma aparência do sonho.Saiu do quarto lentamente, olhando em volta, procurando alguém que ela ainda não sabia quem era, mas, de alguma forma, sabia que estava lá. Sentiu que devia dirigir-se à casa.
No caminho de cascalho, sentiu o vento frio tocar sua pele, mas não sentiu frio. Na verdade, sentiu-se tão quente e confortável quanto estava no seu quarto. Isso era tão estranho!
Chegou à porta da casa e parou, pensando no que poderia encontrar lá dentro. Mas não sentiu medo, pois pressentiu que o que quer que fosse, seria bom. 
Abriu a porta, olhou para a sala e sorriu.
Lá, sentada em uma confortável poltrona azul, usando um vestido igual ao seu, com os cabelos arrumados do mesmo jeito, estava sua mãe. Sua querida mãe, que havia morridoo quando ela tinha apenas conco anos de idade, estava lá e sorria para ela.
A moça não disse nada. Apenas aumentou mais seu sorriso e foi em direção à mãe, que a abraçou e embalou. Então, a moça percebeu uma variação da luz e, pela priemeira vez, notou que a poltrona estava encostada na janela. Levantou a cabeça e olhou para fora, admirando mais uma vez a beleza da paisagem, no que a mãe a seguiu. Soube que poderia olhar aquele lugar lindo para sempre, pois agora era ali sua morada.
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A moça ficara cinco dias sem aparecer para trabalhar. A amiga andara preocupada com ela, que ultimamente só falava naquela ilustração e até havia insistido para que fosse à sua casa vê-la. Ela foi, viu e achou bonito, mas nada demais.
Agora a amiga da moça estava na casa desta, tendo entrado com a chave reserva que lhe fora dada para o caso de alguma emergência. Bem, isto parecia uma emergência. A amiga chamou a moça três vezes. Primeiro, fracamente; depois, mais alto e com mais força. Não ouvindo resposta, dirigiu-se ao quarto e, ao entrar, deparou-se com uma cena que a fez soltar o mais pavoroso grito que já emitira ou ouvira: na parede em frente à cama estava o quadro que fascinara tanto a moça, com o caminho de cascalhos, as árvores, as folhas e a casa. E na parte da frente da casa, em uma das janelas, os rostos  da moça e de sua mãe, ambas a sorrir e olhar diretamente para ela.
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(Final Alternativo)
A irmã da moça estava preocupada. Ela já não ligava nem dava sinais de vida havia dias. Isto não era normal. As dua perderam a mãe muito cedo e isto fez com que crescessem cada vez mais unidas. Como a moça também não atendia ao telefone, a irmã tomou uma decisão: iria até a cidade onde a caçula morava. Eram apenas duas horas de viagem e ela bem que andara querendo ver sua irmãzinha.
Lá chegando, dirigiu-se ao quintal dos fundos, onde sabia que havia uma chave reserva e abriu a porta da cozinha. Chamou, andou pela casa, mas não viu sinal da irmã.
O silêncio na casa era pesado e perturbador, e levou a irmã ao único lugar que ela, sem perceber, evitara desde o momento em que botou os pés na casa. Era o quarto. 
Estava grávida, e quando entrou sentiu o bebê se remexer e chutar. Colocou a mão sobre a barriga, um gesto a ques estava acostumada. Percebeu um quadro na parede em frente à cama e, ao se aproximar, ouviu um grito terrível que jamais soube ter saído de sua garganta. O quadro continha uma ilustração que mostrava uma bela paisagem, onde havia uma casa. Sorrindo de uma das janelas, o mais maléfico sorriso que ja vira em sua vida, estavam sua irmã e sua mãe, ambas gualmente vestidas e penteadas, a chamar por ela com um gesto. A mulher grávida sentiu uma lágrima escorrer por sua face e estendeu a mão para elas. Agora estava em casa, com sua família.